quarta-feira, 22 de abril de 2009

Poetas e profetas, por Ricardo Gondim


Qual a diferença entre poetas e profetas? Nenhuma.

Deus é poeta porque gosta de comunicar-se com versos e metáforas. Sua linguagem, carregada de símbolos, é hermética, misteriosa, para o coração cru. Para entendê-lo, precisa-se de ouvidos espirituais, sensíveis ao êxtase transcendental. Quando Deus declama o universo baila.

Os olhos de Deus procuram homens e mulheres que se disponham a encarnar seus sentimentos. Todo profeta foi chamado e enviado por Deus. Porque seu compromisso é com a vida, só a vida, Javé levanta homens e mulheres que se indignam com a sordidez, mas apaixonados com o sublime. Portanto, toda linguagem poética é profecia. Sua vocação sangra no texto, a expressão rítmica do coração de Deus vaza na tinta de sua pena. O poeta pressente o que deveria ser, mas não é; vê-se compelido a re-encantar os desanimados, a curar os desesperançados, a destilar beleza de mundos imaginários em terras áridas.

A matéria prima do profeta é a poesia. Como um artesão de cristais, o profeta maneja as palavras de maneira simples, mas com delicadeza mágica. Ele deseja mostrar que o cotidiano, com suas contradições perversas, poderia seguir outra estrada. O profeta se despeja no texto como óleo perfumado, faz-se lenho do fogo que aquece a história. Desejoso de trazer os extremos numa síntese que promova o bem, não esquece que o único absoluto é o amor, que o único bem é vida e que o único alvo é a valorização do instante.

Poetas e profetas rejeitam redomas, estufas, viveiros, gaiolas. Eles trocam os tapetes pelo chão batido. Solitários, só obedecem o compasso do próprio coração; indomáveis, revoltam-se com o ordinário; irrequietos, perturbam o normal.

Poetas e profetas não defendem reputação. Alvos fáceis dos ímpios quando negam a história – só as gerações futuras lhes fazem justiça. Pedras do meio do caminho, chateiam; indestrutíveis, semeiam trigo que se fará o pão do idealista, do revolucionário.

Poetas e profetas são contraditórios. Jonas era compassivo e ranzinza; Fernando Pessoa, repleto de heteronômios, otimista e pessimista; Drummond, ateu e crente; Oséias, ingênuo e perspicaz; Vinicious, puro e devasso; Chico Buarque, gênio e banal. Todos, algemados pelo amor, sentem-se livres para vivenciar as inconsistências humanas.

Poetas e profetas são alquimistas. Fazem das palavras poções que encantam; seus feitiços temperam a vida. Os profetas criam sabores exóticos. Usam verbos fortes e inebriam a imaginação. Só eles conhecem o segredo de transformar o transcendental no plausível.

Poetas e profetas são alados; vivem nas nuvens, mantêm perene parceria com os anjos; adoram no silêncio das montanhas; escutam a bruma dos vales; agasalham-se sob o manto platinado da lua. Os poetas não temem ausências, a solidão não lhes amedronta. Profetas são selvagens como os tigres e os poetas, enigmáticos como as águias.

Poetas e profetas nasceram no pé do arco-íris; resgatados do Nilo, crescem como príncipes; sensíveis, choram com o ponteio da harpa; tornam-se parceiros dos humildes, dos mansos e dos puros de coração. Contudo, o destino deles é a cruz.

Soli Deo Gloria.

Fonte: Site do Ricardo Gondim, via Diversità

Um comentário:

  1. Alan
    meu caro é um funk muito conhecido pela rapaziada...


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